sábado, 23 de maio de 2015

Quem é o Destruidor do Apocalípse?

Ap 9:11 

ἔχουσιν ἐπ αὐτῶν βασιλέα τὸν ἄγγελον τῆς ἀβύσσου ·

ὄνο µ αὐτῷ Ἑβραϊστὶ Ἀβαδδὼν καὶ ἐν τῇ Ἑλληνικῇ ὄνο µ ἔχει Ἀπολλύων


E tinham sobre si rei, o anjo do abismo;
em hebreu era o seu nome Abadom, e em grego Apoliom 
Temos presente neste versículo quatro fortíssimos símbolos da Revelação: *rei, *anjo, *abismo e Abadom. Cada um pode ser compreendido independente do outro, mas não quando contracenam juntos. O símbolo isolado em seu próprio universo tem um sentido, mas relacionado com outros ele se subordina ao contexto podendo tanto ganhar quanto emprestar força. Neste caso, o Abadom é fortalecido pelos demais e ganha peso teológico, significando com isto, que sua interpretação abriga algo da Revelação de Jesus. Se "em hebreu era seu nome Abadom e em grego Apoliom", no português é Destruidor
  • O comentário da KJA[1] explica que "em hebraico, o nome ‘Abadom' significa ‘Destruidor, traduzido como ‘Abismo[i]' em Jó 28. Aqui, a tradução vem da expressão grega ‘Apoliom', cujo sentido é o mesmo...".
  • A Bíblia de Genebra[2] acrescenta que "talvez se trate de uma alusão irônica a Nero ou Domiciano. Ambos se consideravam semelhantes ao deus grego Apolo".
  • O Novo Dicionário da Bíblia[3] identifica-o como "o anjo satânico do abismo (Ap 9.11), cujo nome em grego é dado como Apoliom, "destruidor", em hebraico, 'abadon significa "(lugar de) destruição" e é regularmente traduzido como tal em certas versões, no AT, para significar a região dos mortos — conceito familiar na literatura judaica posterior".
  • A Liga de Estudos Bíblicos[4] amplia a discussão ao identificar o anjo do abismo com "Satanás (12,3), cujo nome simbólico é Abaddon, ou Apollyon = exterminador ou destruidor";  
A interpretação generalizada que identifica o Abadom como agente do mal se deve à ligação feita entre a queda de Lúcifer e a estrela caída do versículo 1: (E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo). De fato, a Bíblia Vozes[5] comenta que "A estrela que cai do céu lembra Lc 10,18: a queda de Satanás". Por silogismo, somos levados a seguinte conclusão: 
  1. Uma estrela caiu do céu;
  2. A estrela simboliza um anjo.
  3. Lúcifer era um anjo;
  4. Lúcifer caiu do céu para a terra;
  5. Logo, a estrela do v. 1 seria Lúcifer, cujo nome em hebraico era Abadom
O problema deste silogismo está no restante da Revelação, a qual mostra o anjo do abismo, o Abadom, como um rei liderando o exército de atormentadores dos homens não assinalados por Deus, como comenta a KJA[6]. Estes mesmos homens também são atormentados com as pragas das do segundo "ai" (e não ousamos dizer que as duas testemunhas sejam agentes do demônio, como não ousamos afirmar que o terceiro "ai" seja uma penalidade contra os crentes). Seja notório que a Revelação acentua ter sido o nome do anjo primariamente hebreu, isto é, ele já fora revelado nas Escrituras Hebraicas, portanto, o Abadom de Apocalípse seria o mesmo Destruidor de Êxodo 12.23.Aquele destruidor era o próprio Senhor, por mão de um anjo, punindo os ímpios egípcios e depois, como lembra Paulo em 1ª Co 10.10, punindo os maus israelitas. Ainda em 1º Crônicas 21.15 o anjo do Senhor é chamado de destruidor e em Jeremias 15.8 o Senhor afirma estar trazendo o destruidor sobre os infiéis de Israel para puni-los por suas apostasias. 

Ao Abadom foi dada a chave do poço do abismo, ou, a autoridade para abrir e fechar o acesso do mundo abissal ao mundo terreno. Esta autoridade é exercida no Antigo Testamento exclusivamente por Deus. Em Gn 7.11 e 8.2  Ele rompe e cerra as fontes do grande abismo e em Gn 49.25 Jacó afirma que é o Todo-Poderoso quem abençoará José com as bençãos dos céus e do abismo. Em o Novo Testamento essa autoridade flutua para as mãos de Jesus, ao ponto de os demônios lhe rogarem para não serem expulsos para o abismo (Lc 8.31), o mesmo existente entre o seio d'Abraão e o Hades (Lc 16.26). Nos escritos de Paulo nos é revelado que Cristo esteve neste abismo durante sua morte (Rm 10.7), donde ressurgiu ao terceiro dia em seguida declarando que lhe fora dado todo o poder no céu e na terra (Mt 28.18). Cristo detém toda a autoridade do universo, sobre todas as coisas, inclusive sobre o poço do abismo. É com a chave de Davi que são abertas e fechadas as portas no Apocalípse. É com autoridade que o Abadom reina sobre os homens maus e os atormenta. Quem é esse Abadom? Satanás? Não, pois na Revelação o Diabo é preso pelo Abadom. 

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo (20.1-3) 

            Esta é uma Revelação de Jesus Cristo. Ele é o Abadom, representado por um anjo, que reina com autoridade sobre os santos e os ímpios, preservando os fiéis e destruindo os maus. Isto é revelado no segundo "ai", no capítulo 11.18: "E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra". Tanto em 9.4 quanto aqui a destruição não atinge a terra, e sim, aos maus. Em 19.15 João afirma que "ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso", concordando com a visão do c. 5 onde o Cordeiro é centralizado junto ao Trono com autoridade para abrir o livro e desatar os sete selos. 

            Nesta Revelação os atormentados "buscarão a morte, e não a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles", isto por que o Abadom têm a chave não somente do abismo, como também da morte e do inferno (1.18). Ele controla o direito de viver ou morrer dos maus, e aqui, não lhes autoriza a morte. Os tormentos que os afligem é continuarem vivos, ainda que mortalmente feridos. Quem lhes causou o tormento não é um sádico, um malévolo, um homicida, é um Redentor. Estes ímpios estão sendo punidos pelas trombetas, não pelas taças, ainda lhes cabe redenção, caso se arrependam. Mas como dissemos no princípio, há uma interpretação generalizada que identifica o Abadom como agente do mal: Lúcifer, a estrela caída. 

            Os que enxergam na estrela caída a pessoa de Satanás estão fazendo uma leitura ético-antológica do símbolo. Entendem o "cair" como um lapso moral e existencial, não como um verbo que reforça a imagem do texto. Leia de novo: 

E o quinto anjo tocou a sua trombeta,
e vi uma estrela que do céu caiu na terra;
e foi-lhe dada a chave do poço do abismo 

            O verbo "cair" é impessoal. Sua função é emprestar força à imagem da estrela que vem para agir de forma devastadora na existência dos homens. A ênfase da Revelação não está neste verbo, mas na atividade da estrela que surge de forma meteórica, impactante e destruidora. A imagem de Cristo vindo dos altos céus às profundezas da terra foi poeticamente descrita por Zacarias em Lc 1.78 (Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o oriente do alto nos visitou) e revelada por Jesus em Jo 6.38: "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou". A resplandecente estrela da manhã desceu do céu, mas sua descida foi como a queda de um meteoro na vida dos ímpios. Sua vinda ao mundo trouxe tormento aos de vida errada, como se fossem picados por escorpiões e se encontrassem mortalmente feridos, como escreveu Al Hazzali: "Ninguém que caia doente de Cristo consegue se curar". 

            Outro problema quanto ao Abadom diz respeito à cronologia do evento. A partir de quando ele age, pois só aparece na quinta trombeta e atua por apenas cinco meses? Acontece que na Revelação de Jesus Cristo as cronologias são didáticas, e não literais. É preciso enumerar para poder explicar, dimensionar, aproximar por comparação. Assim, Cristo é o Abadom desde o Alfa até o Ômega, do princípio ao fim. Surge na quinta trombeta como Revelação cumulativa e progressiva, pois não poderíamos suportar a totalidade de suas revelações de uma só vez. Não conseguimos abarcar sua Revelação senão em partes. Quanto aos cinco meses, devem ser comparados com os quarenta e dois meses da ação de Satanás no c. 16.5. Enquanto o tormento causado pelo Abadom dura cinco meses, não provoca a morte e pode conduzir os maus ao arrependimento, a atividade de Satanás estende-se por quarenta e dois meses (88,1% a mais), provoca a morte dos santos e impede a possibilidade de redenção. Não há, portanto, uma circunscrição temporária para as atividades do Apocalipse, por que enquanto houver homem no mundo, há atividade de Cristo na terra. 

Admiráveis são tuas obras, Senhor,
Basta um pequeno enigma e nos confundimos,
Apenas uma letra nos pode separar de Ti e tudo o que és.
Dá-nos Luz, Sabedoria, Humildade e Verdade,
Obediência, Serviço e Honra Te devemos,
Maravilhosas são tuas obras, Jesus.

[1]NOVO TESTAMENTO. King James, Edição de Estudo. São Paulo. Abba Press: 2007. p. 607.
[2] BIBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. São Paulo. Cultura Cristã: 1998. p. 1536
[3] DOUGLAS, J. D. (organizador). O Novo Dicionário da Bíblia São Paulo. Vida Nova. 2006: p. 21
[4] A BÍBLIA, Novo Testamento – volume VII. São Paulo. Abril Cultural: 1982. p. 279
[5] BÍBLIA SAGRADA. Rio de Janeiro. Vozes: 1986. p. 1459
[6] Os gafanhotos do Apocalipse têm uma Missão especial (no primeiros dos "Ais" – 7.3), não atacam os crentes nem devoram seu alimento favoritos (as folhas verdes), assim como ocorreu com os filhos de Israel durantes as pragas no Egito (Êx 8,22; 9.4,26; 10.23; 11.7).


[i] A Bíblia Vozes[i] explica que a palavra abismo "na tradução grega dos LXX e na Vulgata, traduz em geral o termo hebraico tehon, ‘Oceano', ‘as águas primordiais' ou ‘oceano primitivo' (Gn 1,2) da antiga cosmogonia semítica". Mas também significa ‘morada dos mortos' (Jô 38,16s; Sl 71,70), a prisão do demônio (Lc 8,31; Ap 9,1s), donde saem as forças hostis a Cristo (Ap 9,3-11; 11,7; 17,8) e para onde serão repelidos (Ap 20,1-3).

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