sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Religiosidade X Espiritualidade

Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho.  Gênesis 21:10


Emancipar-se da Religiosidade para a Espiritualidade não é tarefa simples, mesmo por que a religião de cada um é uma criação particular. Não se trata apenas de pertencer a um seguimento religioso, mas de gerar uma identidade particular dentro deste sistema. Veja o caso de Abraão e Ismael. Pai e filho! Ismael é a religião de Abraão, filho de sua entranha, sua imagem e semelhança. E esta é a virtude da religião: ela nos representa fielmente, e nós a amamos, pois é criação nossa, nos identificamos com suas particularidades. Não importa o quanto nos escravize, pois lhe temos afeições.

Religião é cultivo e cultura. Embora seja um pouco demorado seu crescimento, aguardamos seus frutos. Mesmo que não venham, ou não sejam saborosos, ainda mantemos vínculos de vida e alma com ela. Ismael é filho de concubinato, um arranjo entre Abrão e Sarai. Um paliativo para ocupar o lugar da promessa. A religiosidade nasce de uma necessidade da alma em alcançar Deus por meio do sincretismo entre a dúvida e a credulidade. Mas credulidade não é fé e religiosidade não é espiritualidade. O filho da escrava não é livre, não é herdeiro da promessa. Chega o momento em que a religião nos decepciona e somos obrigados a admitir que tudo não passa de teatro.

Mas a espiritualidade também é cria nossa, surge de nossa entranha. E estabelece um confronto direto com a religiosidade. Quem ficará com a herança? A espiritualidade é sempre infantil, se comparada com a religiosidade. Ismael zombava e humilhava Isaque, que chorava. Abraão convivia em paz com este sincretismo. Considerava ambos os filhos, mas Sara não aceitou, pois a espiritualidade não é fruto da escrava, mas da livre. O espírito quer liberdade para crescer, se emancipar e herdar a promessa. Sara enfrentou Abraão e lutou por Isaque, intimando a expulsão de Ismael.

“Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho”.

Intimação doída para um religioso. Por para fora a concubina e o filho! Isto significa uma ruptura cultural com a religião, uma erradicação, uma extração, o que se constitui em tragédia. Abraão não quer ouvir Sara. Nenhum religioso quer abrir mão de seus valores religiosos. Quer encontrar Deus em relação de concubinato, de arranjo religioso, de sincretismo. Mas o anjo de Deus manda Abraão ouvir a voz de Sara, por que é Isaque que Deus quer como herdeiro, e não Ismael.

 Deus não quer sua religiosidade, fruto de seus acordos com o sistema, que tem aparência de piedade, mas nega-lhe a eficácia. Que não passa de um amontoado de normas e regras para culto e serviços comuns. Deus sabe que a religião reduz o espírito à infantilidade, zombando dos altos valores. Quando haverá uma emancipação da cristandade, reduzida a um sincretismo entre paganismo e cultura mundana? Assim como foi doloroso a Sara ver seu filho reduzido a brinquedo de Ismael, também dói em Deus ver seus filhos sendo marionetados por ritualismos infantilizantes.

Cristãos choramingando nos cultos e na vida, pois a religião não tem interesse em fortalecer seus seguidores. Um cristão forte é como vinho novo em odre velho, que rompe as estruturas de um sistema e se entorna pelo chão. O cristão espiritual prefere se derramar pelo chão, espalhando-se e encharcando o solo, que ficar reprimido em uma situação de cárcere. É à liberdade que Cristo nos libertou, e pôs em nós seu Espírito Livre.

“Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho”.

Não há como fazer a conciliação entre religiosidade e espiritualidade. É preciso romper com o encalacramento e deixar que o espírito siga seu ímpeto de herdeiro, filho da promessa! E tudo vai concorrer para este fim. Sara dará o ultimato, o anjo reforçará a palavra de ordem, Ismael vai embora e Isaque se torna o único filho de Abraão. A espiritualidade tem um alto valor, por isso exige a escolha mais difícil ao religioso: um compromisso com o novo de Deus!


Paz seja contigo!

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